domingo, 3 de junho de 2012

Avó... e as palavras...

Quando eu era pequenina
Passava horas a representar
Pequeninos teatros
Com versos e poemas por mim inventados
Adorava rimar
Adorava partilhar as pequenas palavras
Que no meu coração eram imensas
Chorava sozinha
Talvez por interiorizar a fragilidade da incerteza
Não amava a vida
Amava apenas a natureza
Sentava-me no chão
Com as pernas encolhidas
Imaginando o medo
Que tinha o meu maior segredo
Que era esperar rapidamente a hora de partir...
Ficava meio perdida
Porque me dava a vida
Esta vontade de escrever...
Sentia-me grata por poder ter livros
Sentia-me perdida
Porque não os conseguia ler
Tinha sempre a estranha sensação
De já os ter lido...
Hoje sinto um vazio
A mesma ferida
Por nunca ter conseguido concretizar:
Ver a minha avó escutar as minhas palavras
Ditas por mim hoje mesmo...
Poder secar-lhe as lágrimas
Que estava sempre a deitar...
A minha grande ouvinte
A minha maior admiradora sempre foi a minha avó
Rita
Linda...
Tenho saudades tuas avó
Principalmente porque passei
Horas e anos contigo...
Hoje ainda te sinto num cantinho tão pequenino
que ainda vive no meu coração...
Fugia de ti...
Tantas vezes...
Para não me veres chorar...
Porque choras avó?
Tenho pena de vos deixar...
Não chores Avó...
Porque te estou sempre a abraçar aí em cima...
Ser de luz...
Sinto-te lá em cima...
Calma
Serena...
Com as palavras que nunca soubeste escrever...
Tinhas a grande mestria das dizer...
Com tanto amor...
E tristeza...
A simplicidade de uma vida vivida
Movida pela dor e sofrimento...
Sempre senti que uma parte da tua alegria
Residia
Na magia de me teres na tua vida...
Só hoje consegui escrever...
Com palavras azuis e luminosas
As lembranças amorosas...
Que acabaste por me deixar...
E vou alimentá-las nesta vida...
Ou noutras...
Amo as palavras...
As orações que me ensinaste...
O resto não tem conta...
Às vezes ando feita tonta à tua procura
Porque estás sempre no meu coração...
Cantando aquela canção com que me embalavas
Não sei qual era...
Só sei que é esta...
A lembrança que me resta...
Mesmo que sinta tanta dor.

03 Junho 2012



3 comentários:

  1. Ai as avós, as nossas avós...

    Verdadeira homenagem à tua avó, as avós de todos nós... e ao seu grandioso AMOR.

    Beijinho para ti, Lurdes

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  2. Obrigada Pedro...
    A minha avó foi e é muito importante na minha vida. É em todos os momentos da minha vida... Nunca a poderei esquecer. Obrigada por leres os meus textos, visitares o local onde se manifesta a minha essência. Aqui no meu blog a minha essência está deveras manifestada. Que bom saber que estás bem...
    Quando voltas a uma aula de quarta? São sempre tão grandiosas... Sempre.
    Viajei para Espanha, a maior pena que tive e não me calava, foi não estar na aula de quarta.
    Espero que estejas bem e a tua família também.
    Um beijo
    Lurdes

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