Tenho agora a noção de ter deixado a terra
Levantei voo
Um caminho virtual
Sinto-me um pouco à toa
Sem rumo
No ar
Observo as asas do avião
Invento-as em mim
Um abrir de asas até ao fim
Sim
O avião não fechas as suas asas
O seu propósito é esse mesmo
Abri-las e levar-nos
Cruzando céus e mares
Como as velas de um barco
Que quando se içam
Nos levam ao sabor do vento
Cruzando os sonhos e as marés
Vi África ficar ao lado de Barcelona
Do outro lado
Imaginei-me a navegar
Entre ventos de nós apressados
Rasgando a cor turva da agitação das areias subterrâneas
Vejo gaivotas
Fazer voos rasantes sobre mim
Levando-me com historias
Que nunca me foram contadas em criança
Porque nunca as quis escutar
Não valia a pena
Alimentar aquilo em que não se acredita
Um ego do tamanho de um adulto
Num corpo infesado de criança
Sempre quis ser grande
Imaginava-me com muitos centímetros mais
Dona do mundo
Sem ter a noção da responsabilidade que isso implicava
Estou doente
Claro que sempre fui assim
Uma doente adormecida de si
Porque ao acordar
Um raio de clareza me iria iluminar
Para me levar ao meu universo
O universo da verdade
Onde a vaidade com que se nasce
Se desvanece...
Como o vento que move aquele barco
Que a meio da sua viagem
Se vê forçado a voltar
Puxado e levado pela força das máquinas
Não pelos saberes ancestrais
Mas pelos imediatos e seguros
Como a nossa máquina humana
Às vezes sinto uma chama levar-me
Dar-me a noção de alegria
De poder permanecer acesa
Sem nunca me queimar
Uma chama temperada
Por isso e por nada
Encontro-me neste preciso momento a voar...
16 Maio 2012
08h20m
Este texto foi escrito em pleno voo Lisboa/Barcelona... As fotos foram também tiradas do avião...
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