A minha essência tem cor... Descobri há bem pouco tempo, que se apagava aos poucos... Resolvi conversar com ela, senti-la e pedir-lhe se me ajudava... Não me respondeu. Fiquei triste... Continuei triste... ela ria-se, ria-se... Não me ajudas! Não me respondes!
Já um pouco no seu extremo, disse-me: Já me sentiste? Já? Se me sentires e deixares de me ouvir... Escutarás a voz do coração... Ela tem razão, muita razão... Vou entregar-me à emoção...
Às vezes imagino-me
Um Miguel Ângelo
A traçar frases com uma caneta
Trémula e insegura
Que esculpindo um pouco
Do que flutua no sentimento
Me leva aos maiores caminhos de abertura
O traçado foge
O traçado finge
O traçado é guiado
Cada veia daquela pedra
Cada sinal que ficou
Deixou uma leitura universal
Uma abertura de canal
Para quem de facto amou
A sua obra
A sua criação
Esta sua é a dele...
Imagino ou vejo?
Ando confusa!
Sem distinção
Não faz diferença
Sinto tantas vezes
A energia da sua presença
Como que me apoiando a mão
Guiando-a por linhas e linhas
Que se alinham
Num caminho circular
Onde saltam umas luzes fugazes
Como uns flashes
Que se repetem
Reflectem uma luminosidade
Que se entranha em mim
Fundindo-me no céu...
Não sei
Não racionalizo
Apenas sinto
Acontece
Fico horas a olhar
A sentir
O deslizar da caneta...
Acabo por adormecer de cansaço
Deixando um traço ao relento...
Acalma-se o pensamento
Agradeço ...
Acordo pouco depois
Com a sensação da mão dele no meu braço...
O cansaço esse desvaneceu...
Quando me deito e acordo
Após ter vivido desesperadamente
Uma vida nocturna
Sem saber por onde andei
Por onde vagueei
Onde não adormeci
Vi-te a um canto de um abrigo
Onde reinava a insegurança
Avistava ao longe uma fila de vagabundos
Discutiam o porquê de estar ali...
Tentei aproximar-me
Havia um escudo
Como que impedindo a minha entrada
A minha passagem
Implorei ao céu
Que me levasse
Não sei bem para onde?
Se para o meu Eu
Se para o lugar por onde sempre caminhei
E que não me pertencia
De repente
O terreno tornou-se lamacento
Negro e sentia-me atolada
Até ao limite da resistência
Pedi ao ser que me abraçava
Que me desse um sinal
Do mundo onde navegava
Se me perdia
Ou se me achava
No meio da noite
Uma voz falou comigo
Disse-me:
Traz-me a segurança
Traz-me a lembrança
Da tua vida passada
Fiquei chocada
Lembro-me de ter caído
No meio do nada
Agarrada
Ao que Deus me concedeu
Agora...
Vi-me novamente a viver
A crescer
No meio do sofrimento
Acordei ou não?
Não sei...
Tinha uma pétala ao meu lado
Soprei-a e ela ali ficou...
Como uma lágrima que se desprendeu
Do âmago do meu ser...
Para nunca mais me deixar
Com pensamentos antagónicos a viver...
Em plena revolução interna
Sofrendo ao limite do prazer
Acariciando cada pensamento
Cada migalha de momento
Sentindo o lapidar da alma
Sem sorrir
Sem amar
Sem partir
Ficam rastos de luzes apagadas
Gastas pelo desuso do medo
A sensação de se crescer
De olhos cerrados
Pensando em pequenos pecados
Como se fosse a própria inquisição
Aprisionando o meu coração
Quando se olha o interior
Não se vê nada
Está um vazio
Que nunca se teria preenchido
Porque nunca se sentiu plenitude
Choro com medo
Não de te perder
Porque acabei por nunca te ter
Choro
Porque me percebi
Detesto a mentira
Sou incapaz de mentir
Mas vi em mim tanta mentira
Minto a mim própria
Porque sonhava abraçar-te
Sonhava ter-te
Para me sentir renascer
Acabei por morrer
Morreu uma parte de mim
Porque a outra está aqui
A gritar de tristeza
A gritar por amor
Agarro o amor
Ou melhor agarrei-te
Sei que és
Não podes ser
Sabes porquê?
Porque sinto
Que não o és...
Sei neste momento que já não minto
Mentes-te tu...
Duas revoluções internas que se cruzam
No meio da encruzilhada do amor
Amar sem apegar
(Dedicado a alguém muito especial, que dentro em breve escreverá um livro, e que me mostrou em foto o céu da sua casa. Essa frase serviu de inspiração para este pequeno texto). Tem uns dotes musicais, até me fez lembrar uma Dj que conheço e que escreve... Divinamente...
Tenho as mãos vazias do passado...
Procuro encontrá-las
Para poder senti-las
Poder sentir esse vazio
Que nunca me perdeu
Para poder enchê-las de um novo nada
Vibrar na fantasia
Que cada momento é mais belo
Que a própria beleza que já existia
O vazio é a alegria de reconstruir
Um novo dia
Acariciar a noite
Deixar as estrelas voar
Para poder voltar a ser
Umas mãos cheias de nada...
Observava as as estrelas
Contemplava-as
Senti-as
Como fazendo parte de mim
Iluminava-as
Senti-as vibrar
Brincava com elas
Como um arco íris
Transmutavam a sua cor
Às vezes sentia dor
Outras tanta tristeza
Mas de uma coisa tenho a certeza
Iluminavam o meu coração...
Às vezes fugimos
Repetimos
Sem notar
Que a vida nos trás de volta...
Por outras voltas
Relembram-se momentos
Que tinham que regressar...
Porque por mais que fugíssemos
Era para vivenciar...
Fugir
Voltar
Desapegar...
O medo de amar...
Faz parte deste carrossel
Que a vida nos proporcionou...
Desabrigada da minha própria solidão, corri estrada fora. Queria encontrar companhia, alguém que algum dia se aproximasse ao que sou. Aproximei-me aos poucos de dias e dias de desespero. Costumo ver umas luzes que me puxam e levam para o meio da imensidão. Nunca poderei intuir sequer que estou só, porque no dia em que voltar a sentir essa solidão, será porque voltei a afastar-me de ti. Conheci uns seres muito estranhos, pretos, lamacentos, que me adoravam e pediam para permanecer ali. Senti-me gritar: Quem sois vós? Não estou aí… Não, não sou daí… Vou-me embora… Olho-me e vejo-me muito pequena a chorar… Cheia de raiva, a demonstrar que tinha razão para estar assim. Perguntei-lhe porque choras? Não vês mataram-me a família, levaram tudo, nada resta de mim, a não ser a tua companhia. Senti-me assustada, detestava aquele ser, porque se agarrava de tal forma a mim, que nem uma lapa o faria de forma tão violenta. Gritei: Sai, larga-me… Não te conheço, nem sequer mereço ter chegado aqui. Este sítio nauseabundo não é para mim. Vou-me embora e é já.
Se vos contar a sensação que tive dentro do meu peito, foi de confusão, medo, indecisão… Nem sei descrever… Num túnel bem profundo, vi uma viagem sem fundo, de um negro brutal. Tenho que sair daqui, escavar bem no fundo de mim, para me poder libertar. Sinto o cheiro a queimado, um vale muito fechado e seres que se agrediam mutuamente. Que faço no meio de tanta gente. Onde estou? Porque estou?
Oiço uma voz muito forte: Abraça essa criança pequenina, e pede-lhe perdão por nunca a teres compreendido, por nunca a teres amado, por nunca a teres perdoado. Respondo: - Que violência…
Não tenho nada a ver com isto… Não tenho… Olhem para mim? (não sei para quem falava) Sou um ser tão inocente, com um coração tão lindo, tão brilhante. De repente ouvi, pega nesse teu coração, o que vês, o que sentes? Não quero partilhar, sinto-me envergonhada… Nunca pensei que pudesse ter tanto, e no fundo não me servir para nada. Não me perguntem porquê? Do céu veio um raio de luz intensa, tentei fugir, resistir… Mas não fui capaz… Escolhes a luz? Escolhes?
Pois por incrível que pareça, recusei… Tenho tanto medo… Não quero nada, nada mesmo, só quero sair daqui. Não sais daqui sem escolheres! Fiquei-me por ali, a rebolar-me na lama e a ver o quanto seria bom subir para a claridade, para o mundo da luz. Ajuda-me a escolher! Propûs…
Não posso, tens que ser tu! Já ouviste falar em livre arbítrio? Respondi: Já. Percebo que chegou o momento de escolher. Nunca vou conseguir…
Como não vais conseguir, conseguiste tanto até hoje… e agora no momento crucial foges…
Ora comecei por falar em estar sozinha, por isto, por aquilo e acabo no meio da confusão, a um passo do silêncio interior e a um passo do caos total… Muito fácil, é só decidir. Tão simples, para uns para mim custou-me os olhos da cara. Escolhi, resisti, chorei, libertei-me e fiquei com uma sensação de não merecimento… Se temos acesso á luz e somos luz, porque resisti em dar amor… porque sempre resisti a olhar para uma flor, cheirá-la, amá-la… Ver a sua beleza…
Hoje decidi-me a amar a luz, os seres, a amar-me e a aceitar-me tal qual sou… Um processo de vida é assim, vai-se evoluindo conforme se pode e também se faz por isso. Essas escolhas ou melhor livre arbítrio podem levar-te onde nunca imaginaste… Porque nem sequer sonhaste… Podem levar-te ao universo… Ao sítio mais perto do céu, a reconheceres estrelas tuas amigas, a seres uma delas, daquelas que brilham tanto, que nem consegues olhar directamente, só sentir…
Há livre arbítrio sem coração? Há livre arbítrio sem emoção?
No meio da multidão, de uma multidão imensa, destaca-se um ser, com uma energia especial, e peço-lhe que me responda: Aceita…
Diz-me: Precisamos da emoção para saber o que escolher e para sentirmos emoção precisamos do coração…
Especifique melhor…
Ou melhor, há na mesma livre arbítrio, mas o resultado da escolha, sendo mental, pode não conferir com a energia da nossa alma, logo pode não ser o melhor para nós…
Esclareci: É quando duas almas ou mais se encontram e se deixam levar por uma energia muito especial, a energia da nossa alma… e o mental, não tem essa energia… Que bom que é ter-mos seres de luz á nossa volta… que nos ajudam a perceber o que é a nossa alma agir de coração…
Voltei a questionar: O que é melhor para nós?
Do meio da multidão ouve-se:
É o que faz parte do nosso caminho… (fez-se um silêncio profundo) …
Abrem-se umas asas esse ser voa, eleva-se e diz com um sorriso profundo:
É o que nos faz crescer e evoluir. O que confere com a nossa energia e com o nosso propósito de vida.
Esvai-se… e sem dizer adeus… ficou o registo nos nossos corações.
O meu continuava a ecoar:
O que confere com a nossa energia e com o nosso propósito de vida…