sábado, 13 de agosto de 2011

As memórias num labirinto...

Um pequeno labirinto, uma vaga de incerteza, despertaram naquele menino a busca de algo mais. Durante momentos de solidão, sentia a necessidade de companhia, como todas as crianças teve a companhia que mais desejava… Hoje sabe que era a que mais desejava, porque na verdade desejava qualquer uma… Uma menina morena, olhos brilhantes, cabelo ligeiramente ondulado, curto, forte e uma voz tímida na primeira abordagem. Até hoje, ou melhor até há bem pouco tempo, viviam a mesma vida, a mesma sintonia, mas em dimensões diferentes. Quando se descobre a vida, se entra nessa labuta, que não passa de uma brincadeira, imaginamos os brinquedos em ponto grande, inventamos histórias deles, e se for preciso bate-se, ri-se, chora-se, um turbilhão emocional, que não se sabe bem, se tem alguma lógica. Ter terá. Será a da criança ou a do adulto?

Começa-se sempre por dizer: Olha eu sou! E tu és… Tal… tal… E das duas uma, ou os dois entram em acordo ou um domina… O outro anula-se ou então sai discussão pegada. Mas não vivem um sem o outro. Porque de facto um sem o outro, já não são nada. O que é ser nada?

Um gosta de azul, ela do preto, ou será que ele é que gosta do preto e finge gostar do azul!

Não se percebe bem… Ela fala, fala, sempre em surdina, queria tanto poder dar-lhe um beijo, deitar-se ao seu lado, mas ainda é tão pequena que não tem força para levantar a cabeça, arrastar o corpo para junto dele. Ele nem sabe que ela quer, porque não se sabe bem quem é quem. Existe um espaço vazio preenchido por uma memória, que ficou… Deve ser bem fofinho, porque me deu forças para aguentar a vida, ser saudável, e poder viver debaixo de um mundo cruel… Hoje cresci e estou aqui… Conheci-o há bem pouco tempo. Aliás ele parecia parte de mim, mas não era… Não é… Fosse o que fosse partiu. Tinha sido tempo demais preso a mim, eu presa a ele, e nada, nada se desenvolvia, a não ser a prisão e um grande bloqueio emocional. Ainda hoje o medo que sente do ter a seu lado e não o poder abraçar é o mesmo…

Inventamos estas histórias para vivermos sem medo da solidão, porque se existe outro alguém, que não vemos, não nos aborrece e está ali, é muito mais confortável. Quando em pequena achavam que tinha problemas, tinham razão, até tinha, queria falar com ele e não conseguia. Nunca ninguém tentou compreender, falar comigo, nunca. Chorei tanto em surdina, rezava para que me levassem dali, não sei bem para onde. Alimentei uma raiva, causada pela incompreensão, que sofria na pele, ou melhor no coração.

Porque é que não tentaram perceber, porque brincava de forma diferente? Porque não gostava de ser dona de casa, porque me imaginava, a escrever histórias, e sentada a um canto, fazia rimas e mais rimas sem parar. Lia sonetos, interpretava-os e onde ficam os brinquedos no meio disto tudo? Não ficam… E o meu mémé (era um borrego de borracha, que eu adorava e ainda hoje, sinto que foi ele que tanto me ajudou). Não tinha nada de especial apertava-se e chiava, mas tinha uma grande beleza para mim, era o meu mémé… Com as voltas da vida fiquei sem nada, material, mas na minha lembrança estão estes brinquedos. Os livros esses ainda os tenho. Pensava como deveria ter sido feliz o Fernando Pessoa, hoje talvez tenha outra noção das coisas e da vida. Tudo o que imaginava, pensava, nunca era verbalizado, nunca. Poderia estar a morrer de fome que não pedia nada. Tinha tudo… Tinha o amor dos pais, da família… O que é que me faltava? Nada. Falava com Deus, falava tanto… Via-o a meu lado, à minha frente, e pedia-lhe encarecidamente para me abandonar, que não havia nada a fazer. As crianças têm destas coisas? Sabiam disto? Eu não sabia. Achava que tinha que haver uma razão para ver o sol brilhar e para ele brilhar… Adorava sentir o vento na cara… Ver a lua, e vivia de noite, o que de dia era impensável para mim. Vinham ideias, que ficavam perdidas em cadernos e uma vontade incrível de partir… Nunca estive sozinha, nunca… Nunca acreditei em mim, nunca… Se hoje estou aqui, foi porque era esta a vida que era para mim, afinal esta foi a minha escolha e nunca tinha percebido…

Sou muito mais feliz agora, apesar de me caluniarem, de sempre acharem ainda hoje que sou diferente, e sou… Sou tão diferente do que era… Vivo mais a minha essência, porque aos poucos me aproximei dela… Encontrei amigos que me compreendem, não criticam e aceitam…

Ainda ando à procura de um Príncipe encantado, que só existe naqueles contos que não li, mas que eu própria escrevi… Mas sei que um dia vou ver ainda mais do que sempre vi… A grandeza e a beleza que todos temos… Essa luz que teimo em apagar, que apesar de tudo teima em ficar e brilhar… Mais teimosa que eu… Vai trazer-me um mundo de desapego e amor. Amo a vida… Amo a noite… e pela primeira vez amo-te a ti… Príncipe dos meus sonhos… Nunca pensei que a princesa existisse. Vou-me embora, porque tenho o vestido mais belo para vestir… Porque o Príncipe está a chegar, para me levar para lá…

13/08/2011

7 comentários:

  1. MARAVILHOSOOOOOOOOOOOOOOOO :-)
    Numa outra dimensão à qual sem querer todos tocamos, acabamos por reparar que o labirinto é tão fácil de resolver lá do alto :-)
    Obrigado - adorei este texto , mesmo :-)

    http://youtu.be/Rui0hzN-EFE

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  2. Amigo tu és um grande amigo...
    As nossas conversas, a nossa amizade têm-me trazido até aqui...
    Os labirintos têm saída e obrigada por me mostrares tantas direcções e uma delas tem uma saída...
    Será que eu quero sair???
    Bjs gd

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  3. Deep forest..deep...deep inside you...the more you go deep, the more you find the light...Congratulations!

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  4. Obrigada pelas tuas palavras (ainda para mais em inglês) estarei a ficar internacional? (lol)
    Fiquei sem jeito de resposta... Agradeço-te amiga do fundo do coração...
    Com as tuas palavras, a tua energia e de certo vais perceber com a imagem que inicia este video... O destino que nos aproximou, ajudou-me a chegar aqui...(o teu vídeo para mim é mais bonito, muito mais bonito que este...)
    http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=6IfSRb1lsJQ
    Thanks for your light...
    Bjs

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  5. Internacionalíssima...Abraço muitoooo apertado.

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  6. O melhor da Lurdes... Sente-se que reiniciou o caminho da Luz, o seu caminho.
    Obrigado pela partilha amiga, sinto-me vaidoso por a conhecer pessoalmente e, por estar a assistir a tamanha revolução que mais parce um tsunami..................
    Um grande beijinho e um abraço.

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  7. Quero agradecer as suas palavras tão bonitas. Confesso que o meu ego inchou um pouco, pois não é todos os dias que se lê um comentário tão sentido, tão de coração.
    Felizmente que existem blogs para podermos transmitir uns aos outros turbilhões de ideias, sentimentos, que ficariam recalcados internamente, ou num caderno, ou numa pasta enclausurada num computador. Eu é que me sinto muito vaidosa do conhecer mesmo. Da sua confiança em mim... Os carneiros têm tsunamis que precisam sem fazer grandes danos entrarem em acção. Ou não fossemos nós carneiros do mesmo dia... Confesso que não sei se mereço um comentário tão bonito... Mas de uma coisa tenho a certeza, estou e fico tão feliz por ter comentários. Adoro comentários :)
    (um segredo: achei que nunca iria conseguir partilhar... e afinal consegui, e estou tão feliz, por vos ter a todos aqui)...
    Um beijo

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