domingo, 14 de outubro de 2012

A minha professora...



Depois de muito me retrair, resolvi ou melhor senti que me podia entregar à confidencia do que sou.
Tal como historias que se contam às crianças, acabei por vir aqui e sentar-me a descansar, enquanto se forma uma história dentro de mim.
Dou aulas, pois dou...
Nunca me vi sentada do lado de lá, a escutar-me atentamente.
Que energia dispara das minhas palavras, dos meus gestos, da minha fragilidade?
Nunca tinha pensado nisso, pois a professora não tem tempo, para se admirar com ela própria.
Hoje resolvi tirar uns dias de ferias, e sentar-me na cadeira da sala de aula.
Entra-se, prepara-se de imediato a marquesa e sem grande barulho começa-se a massagem. Isto é o que a professora refere sempre nas suas aulas, mas como aluna, esqueci-me.
Sentei-me e dei por mim a viajar, que pena, não viajei na matéria, viajei na vida da professora. Bem vou-me entregar, ela é tão directa, que se eu bloquear, vai notar e não vale a pena esconder-me.
Inicia por dar umas palavras de conforto, depois esquece-se e lá começa, a ditar uns exercícios de Qigong. Enquanto isto decorre, prepara a musica que raramente lhe obedece... Mas consegue...
A musica vai mudando, conforme se sente.
Levanto-me e abro os braços, inspiro a energia do céu...
Ela pergunta: - Quantas vezes inspiramos a energia do céu?
Todos os alunos respondem: - Nove vezes.
- Isso mesmo!
Ficou contente, que bom!
Desloca-se de um lado para o outro.
Está atenta aos pormenores e vai dizendo:
- Relaxem os ombros.
Termina e pede de imediato o material:
- Pano de massagem, almofada, e principalmente o conhecimento das manipulações,  pontos de acupunctura e meridianos implicados.
- Façam diagnostico, escolham as técnicas adequadas, e não se esqueçam: a Tuina não são gestos feitos à toa. Sabem porquê?
 - Porque isso não é tuina.
Depois lá sorri, caminha atenta e eu acho-a diferente... Como se se transfigurasse num ser que só vê energia, mãos e Medicina Chinesa.
A meio de um sorriso, revela isso mesmo.
É muito exigente, porque vamos trabalhar a sério a seguir e tem toda a razão.
De vez em quando leva a maquina, fotografa, filma, sempre numa perspectiva estranha. Nunca a percebi, acho que ela também não.
Parece que me despe internamente com todo o seu diagnostico emocional.
Começo a pensar que hoje não escapo, não escapei, porque não escapa ninguém às suas mãos.
Olho-me de alto a baixo, para ver se estou composta, toda vestida, até às orelhas porque essa, é condição obrigatória nas aulas.
E agora repete-se:
- Cortaram as unhas? Cortaram? Tiraram o verniz? Pulseiras?
Respondemos que sim, e um colega pede desculpa porque se esqueceu de tirar a aliança, ou esqueceu o pano.
- Isto não pode ser... Não pode mesmo ser... Ouviram bem?
Começo a sentir a sua energia, inquietante e tranquila ao mesmo tempo.
Passa, toca, ensina e ao passar estende um ramo de saber...
Ao puxar por nós, puxa por si...
A temperatura da sala aumenta, começamos a transpirar, a ganhar animo, a dar o nosso melhor.
Depois da esfrega final, saímos mais enriquecidos por tanto nos ter doído, por tanto nos ter corrigido, mas sinto-me feliz.
Francamente segura.
A minha professora conhece-me por dentro e por fora, sabe como a imito e reconheço.
A minha professora Sou Eu...




2 comentários:

  1. Este texto está muito original, mesmo. Gosto de te ver assim. Viva e divertida.
    Beijinhos
    Lena

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    Respostas
    1. Obrigada Lena pelas tuas palavras... Pela tua dedicação, amizade e pela tua franqueza .
      Sinto-me mesmo assim... Viva...
      Divertida talvez... Ter aulas comigo não sei se será assim...
      Bjinhos

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