São cinco horas da manhã
Uma hora intragável neste meu sofrimento
Se ao menos o sono me acompanhasse
Só que nem isso consigo
Estou na mais insustentável solidão
Apetecia-me sair por aí
Abraçar a multidão na noite vadia
Ganhar a sua energia
Para me sentir melhor
A noite faz-nos tristeza
A noite é silenciosa e negra
Aqui neste quarto fechada
De luz apagada
Nada consigo enxergar
A não ser as imagens
Que a minha mente doente vê
Que loucura!
O passado era diferente
Este presente de vida nada me diz
É como se eu morresse aos poucos
Sem vontade de conquistar o amanhã
São cinco horas da manhã
O sol ainda não quer nascer
Talvez se nascesse fosse melhor
Para este meu ser sombrio e só
Abro a janela
Reparo que hoje nem sequer há luar
Nem oiço os pássaros cantar
Nada
Mesmo nada
Daqui a pouco o dia vai surgir
Passei a noite sem dormir
Tenho de ir trabalhar
Que posso fazer
Para tudo isto mudar?
Nada
Mesmo nada?
Porque são cinco horas da manhã
Continuo acordada
À espera de algo que não sei o que é…
Passar uma noite em branco
É cansativo
É macabro
Porque tudo se torna ridículo
Neste quarto vazio
Sem vida e sem luz
Vou trabalhar
Tenho que ir
São cinco horas da tarde
Sinto-me cansada e sem forças
São quase horas de partir
Regressar a casa
Deitar-me e apagar a luz
Se ao menos conseguisse dormir
Descansar faz-me tanta falta
Foram cinco horas da manhã
Nem sequer dei por nada
Acordei de luz apagada
Com o sol a bater na vidraça
Consegui descansar!
A solidão de certo já passa …
Lisboa, 24 Outubro de 1997
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