segunda-feira, 25 de julho de 2011

Noite em branco

São cinco horas da manhã

Uma hora intragável neste meu sofrimento

Se ao menos o sono me acompanhasse

Só que nem isso consigo

Estou na mais insustentável solidão

Apetecia-me sair por aí

Abraçar a multidão na noite vadia

Ganhar a sua energia

Para me sentir melhor

A noite faz-nos tristeza

A noite é silenciosa e negra

Aqui neste quarto fechada

De luz apagada

Nada consigo enxergar

A não ser as imagens

Que a minha mente doente vê

Que loucura!

O passado era diferente

Este presente de vida nada me diz

É como se eu morresse aos poucos

Sem vontade de conquistar o amanhã

São cinco horas da manhã

O sol ainda não quer nascer

Talvez se nascesse fosse melhor

Para este meu ser sombrio e só

Abro a janela

Reparo que hoje nem sequer há luar

Nem oiço os pássaros cantar

Nada

Mesmo nada

Daqui a pouco o dia vai surgir

Passei a noite sem dormir

Tenho de ir trabalhar

Que posso fazer

Para tudo isto mudar?

Nada

Mesmo nada?

Porque são cinco horas da manhã

Continuo acordada

À espera de algo que não sei o que é…

Passar uma noite em branco

É cansativo

É macabro

Porque tudo se torna ridículo

Neste quarto vazio

Sem vida e sem luz

Vou trabalhar

Tenho que ir

São cinco horas da tarde

Sinto-me cansada e sem forças

São quase horas de partir

Regressar a casa

Deitar-me e apagar a luz

Se ao menos conseguisse dormir

Descansar faz-me tanta falta

Foram cinco horas da manhã

Nem sequer dei por nada

Acordei de luz apagada

Com o sol a bater na vidraça

Consegui descansar!

A solidão de certo já passa …


Lisboa, 24 Outubro de 1997

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